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Novo curador da Bienal de Arte de São Paulo, Moacir dos Anjos, quer resgatar importância da mostra e atrair 1 milhão de pessoas

O Globo, Márcia Abos, 13/07/09

SÃO PAULO - O novo curador da Bienal Internacional de Arte de São Paulo, o economista Moacir dos Anjos, anunciado para o cargo esta segunda-feira pelo presidente da Fundação Bienal de São Paulo, Heitor Martins, se impôs metas ambiciosas. A primeira é recuperar o interesse do público e atrair 1 milhão de visitantes na 29ª edição, que acontece em 2010. Nos últimos anos, o público da Bienal foi minguando. Foram 535 mil visitantes em 2006 e, na edição do ano passado, que ficou conhecida como a "Bienal do Vazio" - um dos andares do prédio no Ibirapuera ficou sem obras - o público não ultrapassou a marca de 120 mil visitantes.

A outra meta de Moacir dos Anjos é mais complicada. Ele quer resgatar a importância da Bienal, que já trouxe ao país obras como "Guernica", de Pablo Picasso e lançou artistas como Lasar Segall, Victor Brecheret, Antonio Dias, Cildo Meireles e Tunga. O prestígio que a Bienal teve no passado vem escoando nas últimas edições com a grave crise institucional da Fundação Bienal.

- Estou empenhado em reafirmar a relevância da Bienal de São Paulo como instituição - disse dos Anjos, de Londres, onde cursa um pós-doutorado.

Para ele, apesar da crise financeira, do grande número de bienais que existem no mundo e dos debates em torno de um esgotamento do formato da exibição, "há um lugar muito importante a ser ocupado pela Bienal de São Paulo".

- Não apenas por sua história, mas por ser realizada no Brasil, um dos principais centros de produção artística mundial - avalia dos Anjos.

Além do andar vazio do ano passado, o evento também ficou marcado pela prisão de Caroline Pivetta da Mota, de 24 anos, que ficou conhecida como a "pichadora da Bienal" . Ela e um grupo de mais 40 pessoas picharam o espaço em branco nesse andar.

Para Moacir dos Anjos, a Bienal não é um evento de massa, mas ele tem uma preocupação muito especial em atrair público. Seu mote será mostrar aos interessados que a Bienal é um espaço para falar da vida cotidiana.

- Nosso objetivo de público tem que ser o máximo possível, atingir 1 milhão de pessoas. A arte contemporânea tem a capacidade de falar das coisas da vida cotidiana, o que torna possível que ela seja entendida por todos.

Em vez de um tema específico, dos Anjos escolheu uma plataforma para a 29ª Bienal de São Paulo, que a exemplo das duas edições anteriores não terá as divisões de obras por país de origem. O título ainda provisório da exposição é "Há sempre um copo de mar para um homem navegar", verso extraído de "Invenção de Orfeu", do poeta alagoano Jorge de Lima.

Outro ponto fundamental para a 29ª Bienal de São Paulo, segundo seu curador, é a experimentação.

- Uma Bienal que quer se distinguir de feiras de arte e museus precisa do experimentalismo, que não pode se manifestar nas outras duas instituições.

O presidente da Fundação, Heitor Martins, informou que dos Anjos irá selecionar até agosto uma equipe de cerca de cinco curadores que trabalharão sob sua coordenação para a criação da exposição. O grupo deve incluir nomes estrangeiros. O curador planeja itinerâncias pelo Brasil de recortes da mostra e atividades extra-exposição, tais como conferências, workshops, performances e mostra de cinema.

O custo previsto para a realização da 29ª Bienal de São Paulo é de R$ 25 milhões. Mais R$ 5 milhões serão investidos no programa de arte educação paralelo à exposição. Segundo o presidente da Fundação Bienal, Heitor Martins, serão necessários mais R$ 10 milhões para custeio de despesas e saneamento de dívidas. Martins também tenciona captar recursos para reforma do prédio da Bienal, criação de Oscar Niemeyer e Burle Marx.

Um economista no mundo das artes

Moacir dos Anjos é economista, com mestrado e doutorado na área. Ganhou destaque na cena artística graças a seu trabalho como diretor do Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães (Mamam) de Recife entre 2001 e 2006. É pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco desde 1990. Foi co-curador da participação do Brasil como país convidado na ARCO - Feira de Arte Contemporânea (2008), em Madri. Dentre as exposições de que participa como curador se destacam: "Vestidas de Branco", de Nelson Leirner (2008), no Museu Vale, em Vila Velha; e "Babel - Cildo Meireles" (2006), na Estação Pinacoteca, em São Paulo.